Mulheres no comando: a cidade onde elas expulsaram o crime organizado, os políticos e a polícia

As mulheres de uma pequena cidade do México resolveram se unir para expulsar traficantes, madeireiros, políticos e policiais. Tudo para que a paz voltasse a reinar entre a população de Cherán, no estado de Michoacán. 

O ano era de 2011 e as mulheres estavam cansadas dos assassinatos e sequestros que haviam tomado conta da cidade de 20 mil pessoas.

A violência era causada, principalmente, pela presença do tráfico - um mal que assola diversas localidades e vilarejos do México. Homens mascarados circulavam pelas ruas extorquindo dinheiro dos comerciantes e, além disso, madeireiros armados que trabalhavam para traficantes destruíam a floresta para o lucrar com a venda ilegal da madeira.

Madeireiros reféns

A questão é que a floresta também era a base da economia Cherán, cidade habitada por indígenas da tribo Purepecha. A situação ficou insustentável quando os madeireiros chegaram perto da nascente de água da cidade e isso poderia afetar o abastecimento da população. Inicialmente, tentou-se o diálogo com os madeireiros, sem sucesso.

A partir daí, as mulheres começaram a planejar o levante. No dia 15 de abril de 2011, elas tomaram alguns dos madeireiros como reféns. A cidade se agitou. Todos corriam com facas na mão e alguns, mais exaltados, queriam enforcar os madeireiros. A polícia e o prefeito pediam a libertação dos reféns. Houve confronto, pois a comunidade não confiava na polícia e nem nos políticos, alegando que eles queriam apenas soltar os "amigos". 

Oásis

Todos acabaram expulsos e a população de Cherán teve que aprender a pegar em armas para se defender. Hoje, em 2016, eles se autogovernam e fazem suas próprias rondas comunitárias para garantir a segurança. Visitantes na cidade são questionados quando chegam. Cada um dos quatro bairros de Cherán possui seu próprio representante. As lei são rígidas e a comunidade é familiar, onde todos se conhecem. O sistema independente de Cherán vem funcionando nos últimos cinco anos e é reconhecido pela justiça mexicana - o estado mexicano, inclusive, repassa verbas para a cidade. 

A cidade tem sua própria Justiça para crimes menores e por ali não foi registrado nenhum assassinato no ano passado. O local é considerado um oásis no meio de um dos estados mais violentos do México por conta da ousadia de algumas mulheres inconformadas com a violência e a destruição da floresta. Atualmente, para derrubar uma árvore também é necessário pedir permissão à representantes da comunidade. 

Fonte: BBC

Imagem: Kylie Ellway / Shutterstock.com