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#MeuAmigoSecreto, infelizmente, é o seu também

MOMENTO LIFETIME
Por Lifetime Brasil el 23 de July de 2022 a las 00:30 HS
#MeuAmigoSecreto, infelizmente, é o seu também-0
"Eu conheço esse cara também".
"Nossa, mas isso me lembra muito o Fulano". 

Pois é. Desde que a hashtag #MeuAmigoSecreto começou a rolar na internet brasileira, cada novo relato é uma velha identificação... nem sempre agradável. Porque a gente vive diznedo que "machistas não passarão", mas e quando ele é o seu pai, seu irmão, seu chefe, seu namorado ou seu ex?

 

Para quem ainda não sabe, as mulheres tomaram a internet (oba, mais uma vez!) para denunciar o machismo próximo da gente com a hashtag #MeuAmigoSecreto. Essa expressão, que em geral significa aquela brincadeira de troca de presentes do fim do ano, foi apropriada pelas feministas justamente porque a gente sempre começa dando pistas sobre o tal amigo, para que os outros tentem adivinhar de quem se trata.

 

E foi fácil adivinhar. O seu amigo secreto também é o meu. Reuni alguns "amigos secretos" de outras meninas que parecem um monte de gente que conheço:

 

#meuamigosecreto acha que só gordas e feias são feministas, afinal mulher bonita todo homem trata bem, sendo bonita não precisa de feminismo.

 

#meuamigosecreto acha mais conveniente ensinar a filha a tomar cuidado com os homens do que ensinar seu filho homem a respeitar as mulheres.

 

#meuamigosecreto acha a coisa mais pica do mundo ir numa festa e pegar 10 garotas, mas se a ex dele sai e pega 10 caras, ela é piranha.

 

#meuamigosecreto gosta de ver lésbicas se beijando, mas se for gay aí é pecado e Deus não gosta.

 

#MeuAmigoSecreto diz que só engravida quem quer, mas coage a namorada a transar sem camisinha.

 

#meuamigosecreto diz que "é tudo vitimismo", mas quando alguma mulher só quer ser amiga dele fica reclamando 3 meses de "friendzone".

 

#meuamigosecreto acha que mulher que se veste com poucas roupas pede pra ser desrespeitada.

 

#meuamigosecreto reclama de pagar pensão alimentícia, pula fins de semana com o filho pra ficar com a nova namorada e depois posta fotos do filho nas redes sociais e todo mundo comenta que ele é um 'paizão'.

 

#MeuAmigoSecreto prega feminismo na rede social, porque está na moda, porque é cool. E faz mamãe de empregada. Não lava nem o prato que sujou.

 

#meuamigosecreto acha que pode passar o rodo antes de casar, mas a futura esposa dele tem que ser pura e virgem.

 

#Meuamigosecreto apoia que as mulheres conquistem mais espaço no mercado e na sociedade, mas não suporta ter uma na Presidência da República.

 

#meuamigosecreto acha que se mulher não estiver sorrindo e solícita, está na TPM.

 

#meuamigosecreto diz que existe mulher para casar e mulher para transar.

 

#MeuAmigoSecreto tá incomodado com a tag. Isso não me surpreende nadinha, afinal a carapuça tá servindo demais nele.

 

Ufa! Pois é, essa hashtag teve um efeito granada. Você mirava um e acertava trinta.

 

Claro que os homens se sentiram incomodados, fizeram chacota, tentaram desmerecer o movimento e o relatos. Usaram a hashtag para outros fins. Mas o que esses nossos amigos secretos ainda não aprenderam é que não tem como parar uma onda. E a onda feminista está cada vez mais adquirindo uma força absurda.

 

Teve menino que apoiou a tag e até deu seu relato também. Mas que eles não se iludam, eu não conheço nenhum homem (por mais cabeça aberta que seja) que já esteja 100% desconstruído do machismo. E essa hashtag era muito para eles sim. Nisso tudo, o que mais me chamou a atenção foi o post do marido de uma amiga minha:

 

"#meuamigosecreto sou eu, mas estamos tentando melhorar".

 

Se alguns homens já conseguem se enxergar nos relatos e se achar ridículos, temos um começo. Era uma hashtag de indiretas? Para algumas, foi também. Mas era muito, muito mais do que isso e aí eu abro aspas para a espetacular escritora Nádia Lapa, que resumiu bem: "trata-se de uma questão coletiva, que se repete ao longo da vida de uma mulher, que não foi só uma vez, que é pra fazer cair a ficha de alguns". É por isso que cada post soava tão real, tão nosso.

 

Mas ainda que fosse indireta é preciso reforçar que nem toda indireta é um mimimi. Muitos homens questionaram porque as mulheres não tomavam "atitudes concretas" sobre suas queixas. Amiguinho, muitas de nós tomamos, sim! Os homens é que não querem ouvir. Mas agora não tinha como não ouvir, ou melhor, não ler. Tomamos todas as redes sociais que eles usam. Os homens leram relatos não apenas da "amiguinha metida a feminista que não depila a axila", mas as histórias de suas irmãs, de suas esposas, de suas mães, de suas chefes, de suas empregadas.

 

Por isso, eles podem até reclamar, mas não vamos parar. Até gostaríamos de parar, porque isso poderia significar que conquistamos as nossas reinvindicações. Mas enquanto isso não acontece, vai ter hashtag sim. E se reclamarem, vai ter mais vinte.

 


 

Carol MaglioCarol Maglio é a blogueira conhecida como Pãozim De Queijo, além de produtora audiovisual, apresentadora de TV, modelo plus size e especialista em mídias sociais.
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