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A justiça que consegue bloquear aplicativos, mas não consegue proteger uma mulher

Momento Lifetime
Por Lifetime Brasil el 23 de July de 2022 a las 00:30 HS
A justiça que consegue bloquear aplicativos, mas não consegue proteger uma mulher-0

Esta semana o Brasil foi 'abalado' por mais um bloqueio do WhatsApp, nosso app favorito de troca de mensagens. Uma juíza repetiu a ordem porque, mais uma vez, os administradores do aplicativo se recusaram a fornecer informações relacionadas a crimes. Para isso, bastou uma assinatura - e o bloqueio se cumpriu integralmente.

 

Essa é uma medida extrema, que mexe no direito de muitos para conseguir o retorno de alguns. E, claro, gera grande comoção, mobilização, drama.

 

O mesmo não se vê quando (mais) uma mulher é agredida no Brasil. Nesta mesma semana, um caso de violência doméstica me chamou a atenção. A de uma menina de apenas 21 anos de idade, chamada Bárbara Penna, que já passou por mais de 200 cirurgias consequentes da violência que sofreu do ex.

 

E ainda não houve justiça para Bárbara. E talvez nunca haverá.

 

Em 2013, a menina, com seus 18 anos, foi jogada da janela de um prédio. Antes disso, havia sido espancada e torturada pelo ex-companheiro, que ainda ateou fogo sobre o seu corpo e no apartamento onde estava. O incêndio matou por asfixia os dois filhos pequenos de Bárbara e também um vizinho que tentou ajudá-los.

 

Quando o socorro chegou, o agressor alegou que ele era a vítima, que Bárbara havia tentado matar a todos e depois se jogado do alto do prédio. Mesmo sem nenhuma fratura ou queimadura, foi colocado na mesma ambulância que a garota, onde ele ficou rindo de toda a situação. Somente no hospital, ela conseguiu dar o seu relato e ele foi detido após confessar.

 

Três anos se passaram. E ele ainda não foi julgado. Segue preso, mas a morosidade da nossa Justiça não deu o encerramento do caso. Nesses três anos, a vítima passou por 224 cirurgias por conta das queimaduras, de tornozelos, calcanhares e vértebras quebradas e de um crânio afundado. E ainda terá que passar por, pelo menos, mais sete. Nestes três anos, Bárbara teve que conviver com duas coisas: a ausência dos filhos, Isadora e Henrique, e com as ameaças de morte que a família dele faz.

 

Eu li esse relato num dos maiores jornais do Brasil e me peguei pensando por que não tinha sabido dele antes. Quer dizer, o caso me parecia familiar. Mas será que eu tinha lido mesmo sobre esse especificamente ou alguns dos outros milhares que acontecem todos os dias e que mal ganham notinhas nos rodapés dos noticiários? Em qualquer outro país sério, um caso desse porte teria mobilizado a população. Mas aqui a gente só parece se importar de verdade quando fica impossibilitado de trocar mensagens e besteiras com os amigos e paqueras.

 

Outra coisa que me incomodou foi o fato de que os poucos casos brasileiros que realmente se destacam acabam deixando marcados apenas os nomes das vítimas. Eu duvido que você saiba o nome do agressor da Maria da Penha. É Marco Antônio Heredia Viveiros, diga-se de passagem. E ele só ficou preso dois anos e agora está livre.

 

O agressor da Bárbara se chama João Guatimozin Moojen Neto. Esse nome jamais deveria ser esquecido. Afinal é o nome de um sádico, de um incendiário, de um torturador, de um agressor de mulheres, de um assassino de crianças e também de um homem.

 

Mas a gente não está nem aí. Porque assim como a Bárbara é apenas mais uma vítima, João Guatimozin é apenas mais um homem covarde.

 

E a nossa vida segue, enquanto olhamos apenas para a tela dos nossos celulares, na espera da próxima mensagem do WhatsApp.

 

 


A justiça que consegue bloquear aplicativos, mas não consegue proteger uma mulher - 1Carol Maglio é a blogueira conhecida como Pãozim De Queijo, além de produtora audiovisual, apresentadora de TV, modelo plus size e especialista em mídias sociais.
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